A influência da religiosidade, crença, fé na saúde física e mental.


Segundo uma pesquisa recente realizada nos Estados Unidos, já são muitos os médicos que enxergam uma ligação entre fé e saúde. Mais da metade (56%) dos profissionais entrevistados disseram acreditar que a religião e a espiritualidade têm uma influência significativa na saúde dos pacientes. Publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), o levantamento foi feito com 2.000 médicos de diferentes especialidades.
"O estudo sugere que grande parte dos médicos não encontra barreiras entre ciência e fé. A maioria dos profissionais americanos acredita que Deus intervém na saúde dos pacientes e, no entanto, continua a aplicar as últimas descobertas da ciência na sua prática", disse à Folha o autor do estudo, Farr Curlin, professor de medicina da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Outro estudo recente, publicado neste ano na revista científica oficial da Academia Americana de Neurologia, sugere que níveis mais elevados de espiritualidade e de práticas religiosas individuais estão associados a uma progressão mais lenta da doença de Alzheimer
Para Tim Daaleman, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte (EUA) e autor de vários estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde, a consciência dos efeitos da fé nos procedimentos médicos tem aumentado nos Estados Unidos.
Ele defende que, se o cérebro é incumbido de processar emoções, aprendizados, noções de moralidade e afetividade, entre outras funções, é também responsável por validar a espiritualidade.
Estudos para avaliar a ligação entre religiosidade e saúde ganharam força no final do século 20. Muitos apresentaram resultados opostos às idéias de pensadores como Freud.
"Até agora se pensava que as manifestações espirituais se processavam no vácuo, mas hoje se sabe que o cérebro é o nosso computador". dizem alguns estudiosos do assunto.


No Brasil:
Há várias hipóteses para explicar de que maneira a fé influencia na saúde. "Uma delas defende que esses indivíduos possuem uma rede de apoio social mais forte, enquanto outros estudiosos indicam que, com a fé, as pessoas encontram um sentido na vida, o que as ajuda a viver melhor, com mais esperança e com uma atitude mais positiva", explica o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 
Com o surgimento da neuroteologia no século XX,  que é o estudo do processamento das emoções relacionadas à religião e à espiritualidade no cérebro.O neurocirurgião Raul Marino Jr., da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo),  interessado no tema lançou, em 2005, o livro "A Religião do Cérebro", onde explica o processamento desses fenômenos no órgão humano.
 No século 19 não era bem assim... 

A partir da segunda metade do século 19 e ao longo do século 20, houve uma tendência a ver a religião como algo primitivo. À medida que o ser humano fosse evoluindo, dizia se, os homens a abandonariam.
Personalidades como Sigmund Freud, que afirmava que a religião seria uma neurose obsessiva universal e um mecanismo de defesa imaturo, contribuíram para que ela ganhasse contornos negativos durante esse período, principalmente entre os intelectuais.


Religiosidade e suicídio:
Apesar de estar bem estabelecido que um maior envolvimento se associa a uma menor taxa de comportamento suicida, uma área ainda pouco estudada é o modo pelo qual  a religiosidade pode prevenir o atos auto destrutivos. Seguindo o pensamento de Durkheim (1966), tradicionalmente tem-se atribuído a proteção contra suicídio promovida pela religião à maior integração social promovida pelas atividades religiosas. Em seu estudo sobre o tema, este sociólogo identificou uma menor taxa de suicídio entre países com crenças religiosas mais fortalecidas. 
Para Durkheim, duas dimensões integradoras da religião são as crenças e as práticas. Quanto mais numerosas e fortes forem elas, maior será a integração da pessoa à vida do grupo e menor será a probabilidade de suicídio. A participação do indivíduo no grupo dá à vida maior sentido, provê significado através da devoção a outros, fornece uma ideologia, distraindo a pessoa de problemas pessoais que poderiam, em outras circunstâncias, liberar tendências suicidas.
Além de propiciar uma rede social de apoio, outros mecanismos são propostos para explicar o efeito protetor contra suicídio que a religião possui. Stack (1983a) sugeriu alguns deles: 
 - crenças na vida após a morte e em um Deus amoroso
 - Proporcionar objetivos à vida e auto-estima 
 - Fornecendo modelos de enfrentamento de crises 
 - Dar significado às dificuldades da vida
 - Oferecer uma hierarquia social (que muitas vezes difere da hierarquia socieconômica da sociedade)  - Desaprovação enfática do suicídio
 Um modo pelo qual a religião pode proteger contra o suicídio é a chamada dissonância cognitiva, ou seja, o quanto as crenças religiosas são incompatíveis com idéias suicidas, gerando uma menor admissibilidade do comportamento suicida (Hoelter, 1979). A tolerância ao suicídio pode ser o mediador entre as crenças religiosas e o risco de comportamento suicida (Stack, 1991).  A grande maioria das religiões desaprova energicamente o suicídio, desde as ocidentais ao hinduísmo e islamismo (Bathia, 2002). Mais recentemente, alguns estudos estão testando a hipótese de que a religião protegeria do suicídio pela maior interação social que proporciona. Neeleman e cols. (1997) analisaram dados de 19 países ocidentais e encontraram que a religiosidade se associou negativamente com tolerância ao suicídio e taxas de suicídio. 
A pesquisa evidenciou que as taxas de suicídio se relacionam mais fortemente com os níveis de crença religiosa e intolerância ao suicídio (dissonância cognitiva) que com a filiação religiosa ou a freqüência aos serviços religiosos (integração social nos grupos religiosos).  Ou seja, para  homens e mulheres, a tolerância ao suicídio depende em larga escala da influência sociológica (viver em um ambiente religioso) além de suas próprias crenças. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entrevista com a Assistente social Cecília Andrade

Abordagem psicanalítica no contexto da violência contra mulher durante a pandemia.

Mecanismos de defesa do EU em tempos de crise